Não é de hoje que a arte rupestre encanta a humanidade por mostrar as habilidades em contar, através da pintura, o dia a dia de nossos ancestrais. Em vários lugares do mundo, rituais, caças e festas ainda estão marcados em pedras e cavernas, nos ajudando a entender nosso próprio processo evolutivo. Um deles é Lascaux, o incrível complexo de pinturas rupestres localizado no sudoeste da França.
A caverna de Lascaux foi descoberta na década de 1940 e se destaca pela quantidade de pinturas em seu interior. Apesar do tamanho, as pinturas são de extrema importância e, pelas descrições enigmáticas, levam a crer que Lascaux tenha sido uma espécie de santuário. Estudos mostram que as figuras de bois, cavalos, cervos, cabras, felinos, entre outros animais foram pintadas há, pelo menos, 17 mil anos atrás!
A descoberta da caverna Lascaux em 1940 trouxe consigo uma nova era no conhecimento da arte pré-histórica, bem como as próprias origens humanas. Há diferentes interpretações quanto ao uso das cores, formato dos desenhos e até mesmo organização de equipes para o desenho das figuras. Mesmo 80 anos após sua descoberta, a caverna continua alimentando a imaginação coletiva e comovendo gerações de visitantes de todo o mundo.
Onde fica a Caverna de Lascaux?
A caverna de Lascaux fica em Périgord (França), na comuna de Montignac, a quarenta quilômetros a sudeste de Périgueux. A gruta está 519 km distante de Paris, uma viagem aproximada a 5h30 pela A20.
A descoberta de Lascaux
A verdade é que a caverna de Lascaux foi descoberta por homens do Paleolítico que, vagando pelo vale de Vézère, descobriram uma caverna no alto da colina. As passagens eram estreitas e davam acesso a salas cujas paredes funcionam como perfeitas telas de pintura feitas de calcita branca. Isso aconteceu há cerca de 17 mil anos e, ali, estes homens representaram seu cotidiano e rituais de caça.
Milênios depois, mais precisamente no dia 12 de setembro de 1940, quatro adolescentes passeavam pela região acompanhados de seu cão. Até que o bichinho adentrou por uma passagem estreita que dava para uma parede rochosa cheia de pinturas. Foi aí que o homem contemporâneo descobriu Lascaux! Os jovens imediatamente contaram o fato para o professor Léon Laval.
Dias mais tarde, Henri Breuil, especialista em pré-história, visitou a caverna e, após estudo aprofundado, certificou que os desenhos nas paredes representavam, sim, pinturas rupestres.
Vale lembrar que o vale de Lascaux fica bem perto de outros complexos de desenhos pré-históricos. São pelo menos 37 cavernas, abrigos e locais do Paleolítico Superior localizados a céu aberto, constituindo a maior concentração da Europa Ocidental.
Como é a Caverna de Lascaux?
As valiosas pinturas da Caverna de Lascaux datam do Período Paleolítico Superior, ou seja, 17 mil anos atrás. De fato, a caverna é relativamente pequena, medindo 250 metros de comprimento, além do desnível aproximado a 30 metros.
A gruta é dividida em sete salas, cujos nomes foram dados por Breuil fazendo referência à arquitetura religiosa. Cada área tem um estilo de pintura, o que aguça ainda mais a curiosidade dos estudiosos.
- Sala dos Touros: a primeira sala é, também, a mais espetacular. Nela, há duas fileiras de auroques, uma espécie de boi já extinta, acompanhados de cavalos e um animal parecido com o unicórnio. Fora das fileiras, estão ainda mais três grandes auroques, seis cervos e um urso.
- Galeria Axial: a sala também ornamentada com bovinos, cavalos, cervos e cabritos traz ainda figuras geométricas, como pontos, retângulos e bastões.
- Passagem: figuras já degradadas pelo ar.
- Nave: outra área bastante enigmática, a Nave tem grupos de figuras – Pegada, Vaca Negra, Cervos e Bisões. Com elas, estão inúmeros signos geométricos aos quais Breuil nomeou de brasões.
- Abside: mil gravuras, algumas sobrepostas a pinturas, correspondem a signos e animais, incluindo a única rena da gruta.
- Poço: a mais misteriosa cena desenhada em Lascaux está aqui. Na pintura, estão um homem com cabeça de pássaro caindo após a investida do que parece ser um bisão. Outros signos e animais se misturam à pintura, remetendo a algo mitológico.
- Câmara dos Felinos: estreito corredor com cerca de 20 metros cujas figuras mostram felinos que parecem urinar para marcar território. Os desenhos representam ainda cavalos vistos de frente. Isso difere de outras figuras paleolíticas, nas quais os animais são desenhados de perfil.
As áreas acessíveis da caverna podem ser divididas em três eixos principais. O primeiro compreende a área de entrada, o Salão de Touros e a Galeria Axial. O segundo inclui a Passagem, a Nave, a Galeria Mondmilch e a Câmara dos Felinos. O terceiro eixo contém o eixo e a grande fissura; além disso, uma grande quantidade de cascalho marca a abertura da Câmara Assoreada.
O que torna Lascaux tão especial?
As pinturas de Lascaux são verdadeiras enciclopédias da vida selvagem, com cavalos, cervos, bisontes, alces, leões, um rinoceronte e um urso. As imagens foram desenhadas com carvão e ocre, resultando em uma intensa gama de cores como vermelho, marrom, branco e amarelo. As figuras se misturam a desenhos geométricos abstratos, além da misteriosa figura humanóide no Poço.
A proposta das pinturas leva a crer que Lascaux tenha funcionado como um santuário. Segundo especialistas, a hipótese é de que, ao desenhar aqueles animais, os homens capturavam sua alma, facilitando a caça.
Por outro lado, parte das pinturas também podem representar narrativas, além de interações entre homem e animais. A figura humanóide, por exemplo, teria lutado com um grande animal, combate representado no Poço.
Durante as incursões, arqueológicos encontraram, no interior da gruta, ferramentas de pedra, aberturas que podem ter dado suporte a andaimes feitos com galhos, além de resquícios de pólen fossilizado. Os grãos podem ajudar a entender também como era a própria vida selvagem e a flora naquela época.
Como visitar o Complexo de Lascaux
As grutas de Lascaux foram fechadas à visitação devido à emissão de gás carbônico, o que já estava danificando as pinturas. Isso se deve à popularidade adquirida pelo complexo, especialmente entre 1940 e 1963.
Como alternativa, foi criada a Lascaux II, uma réplica financiada parcialmente pela venda da caverna original ao governo em 1972. Após oito anos parado, o projeto foi retomado em 1980 e inaugurado em 1983.
A réplica fica a cerca de 180 metros da caverna original que, hoje, é Patrimônio Mundial pela Unesco. Lascaux II representa, não só os desenhos, mas também as técnicas, pigmentos originais e o relevo da parede.
Em 2012, foi entregue a Lascaux III, recriação de um conjunto de cinco réplicas exatas de pinturas da Nave e do Shaft. A exposição, que roda pelo mundo, mostra Lascaux em toda a sua complexidade antropológica, etnológica e estética.
Por fim, em dezembro de 2016, o mundo conheceu Lascaux IV – International Centre for Parietal Art (CIAP). Trata-se de um centro turístico e cultural dedicado à exibição e explicação da arte parietal a partir das imagens pintadas e gravadas nas paredes da caverna Lascaux. A instalação é centrada na reprodução quase total da gruta e no uso de novas tecnologias de imagem e virtuais a serviço do público.
Consiste em uma reprodução fac-símile física da caverna, um conjunto de suportes digitais e fac-símiles móveis, garantindo a reprodução científica das pinturas emblemáticas dos seguintes painéis:
- Os dois bisões apoiados
- A grande vaca negra
- O painel de impressões de mãos
- A abside
- The Puits
- O divertical axial
- O cavalo de cabeça para baixo
- A sala dos touros
Lascaux IV permite-nos ver a reprodução de Lascaux e compreender, através de um meio interativo, a sua arte parietal bem como sua conservação. Informações podem ser verificadas no site: https://archeologie.culture.fr/lascaux/en/practical-information.
Ainda que seja cercada de mistérios, a Caverna Lascaux mostra a necessidade humana, desde os primórdios da existência, de se comunicar através de imagens.
E você sabia que, no Brasil, também temos exemplos de pinturas rupestres? O Parque Nacional da Serra da Capivara concentra impressionantes sítios arqueológicos, assim como a cidade paraibana de Souza. No Costão do Santinho, existe um museu a céu aberto com inscrições registradas em seus paredões, além dos desenhos cravados na Ilha do Campeche.