Você sabe por que alguns países dirigem à direita, enquanto outros dirigem à esquerda? A chamada “mão inglesa” ou “direção inglesa” é válida em 76 países, o equivalente a ⅓ da população. Ainda que não sejam poucos os países a adotar o modelo, “dirigir ao contrário” dá um nó em quem aluga veículos durante a viagem. Saiba, agora, porque alguns países dirigem pelo lado esquerdo da via.
Primeiro, é interessante destacar que, da parcela de 35% da população que dirige à esquerda, boa parte pertence a antigas colônias britânicas. Mas, antes de achar que se trata de algo imposto, é bom entender que há uma razão histórica para a adoção da mão inglesa. Quer saber qual é?
Por que alguns países dirigem à esquerda?
Todo mundo sabe que a Idade Média não foi nada fácil. As sociedades feudais eram consideravelmente violentas, de modo que as pessoas, enquanto viajavam, precisavam ficar sempre alertas.
Como a maioria das pessoas é destra, os espadachins viajavam do lado esquerdo da estrada, deixando o braço direito mais próximo do provável oponente e, a bainha, mais longe dele. Isso reduzia a chance de a bainha atingir outras pessoas.
Em outras palavras, viajar do lado esquerdo da estrada facilitava o contra-ataque. Mais explicações são encontradas no período feudal.
Primeiro, um destro tem maior facilidade para montar um cavalo pelo lado esquerdo. Além disso, é mais seguro montar e desmontar na lateral da estrada do que no meio do trânsito. O hábito permaneceu e, hoje a maioria dos países que adotam a mão inglesa são antigas colônias britânicas.
Boatos e mais boatos
Claro que a criatividade humana tratou de explicar, por meio de várias teorias, a adoção da mão inglesa. Uma delas é que, no final dos anos 1700, carregadores da França e Estados Unidos passaram a se sentar à esquerda dos cavalos, liberando a mão direita para chicoteá-los (cruel, né?). Consequentemente, precisavam usar o lado esquerdo da via.
Ainda na França, antes da Revolução Francesa de 1789, a aristocracia viajava pela esquerda da estrada, forçando o campesinato a seguir no lado direito. Com a tomada da Bastilha e os eventos subsequentes, os aristocratas preferiram se manter discretos e se juntaram aos camponeses. Em 1794, foi editada uma regra que oficializou a manutenção da direita no país, tendência que foi se espalhando pela Europa.
Só que, neste ponto, vale destacar que o “direitismo” das vias foi adotado por países conquistados pelas tropas napoleônicas. Aquelas que não sucumbiram a ele, como Grã-Bretanha, Império Austro-Húngaro e Portugal, permaneceram “à esquerda”.
A divisão permaneceria por mais de 100 anos, até depois da Primeira Guerra Mundial, quando várias nações passaram a dirigir a direita, com exceção dos britânicos.
Com a expansão das viagens e construção de estradas a partir de 1800, todos os países introduziram suas regulamentações de trânsito. Na Grã-Bretanha, a condução à esquerda tornou-se obrigatória em 1835, exemplo seguido pelos países que faziam parte do Império Britânico.
Índia e as ex-colônias britânicas na África, por exemplo, dirigem pela esquerda até hoje.
Algumas exceções que merecem destaque
O Egito foi conquistado por Napoleão antes de se tornar uma dependência britânica e, mesmo tendo estado sob domínio do Reino Unido, a condução de veículos é feita do lado direito. O Japão, por sua vez, nunca fez parte do Império Britânico, mas seu tráfego também segue pela esquerda.
No caso japonês, a origem do hábito remonta ao período Edo (1603-1868). Entretanto, a regra não escrita foi tornada oficial somente em 1872, ano em que a primeira ferrovia do Japão foi construída com ajuda técnica dos britânicos. Gradualmente, a enorme rede de ferrovias e trilhos passaram a circular do lado esquerdo.
Ainda assim, levou mais meio século até que, em 1924, a direção do lado esquerdo estivesse claramente inscrita em uma lei.
Outra exceção é o Suriname, que, juntamente com a Guiana, são os únicos países da América do Sul que dirigem à esquerda. Isso porque o Suriname era uma colônia holandesa, que também adotava esse tipo de direção até a conquista napoleônica.
Seguindo com as referências coloniais, podemos destacar que muitos países que, ainda hoje, seguem dirigindo à esquerda foram dependentes das metrópoles europeias que, aos poucos, abandonaram o hábito. É o caso de Macau, Goa, Moçambique e Timor-Leste.
A adoção da mão direita
A tendência à adoção da mão direita se deu de formas diferentes em cada país. Nos Estados Unidos, há quem diga que abandonar a mão inglesa foi uma forma que os americanos encontraram de afirmar sua independência.
No Canadá, várias províncias só passaram a dirigir pela esquerda após a Segunda Guerra Mundial, embora as colônias britânicas tenham resistido por mais tempo.
Na Itália e Espanha, a falta de regulamentação fazia com que os países literalmente se dividissem entre as formas de dirigir. Até que, ao longo da primeira metade do século XX, a direção pela direita foi uniformizada.
Na Suécia, a mudança de mão foi feita mediante um referendo (democrático, não é mesmo?), até porque as nações fronteiriças (Noruega e Finlândia) dirigiam pela direita. O mesmo exemplo foi seguido pela Islândia
Com a expansão do poderio norte-americano, os carros exportados tinham, em seus projetos, a direção pela direita, forçando a mudança das leis de trânsito em vários países.
Porém, engana-se quem pensa que todas as antigas colônias britânicas permaneceram dirigindo à esquerda. A Nigéria, por exemplo, tornou-se independente e, em 1972, derrubou de vez a tradição inglesa. Dois anos depois, foi a vez de Gana mudar a direção do trânsito.
A Inglaterra também já quis dirigir pela direita!
Sim, os britânicos cogitaram a ideia na década de 1960, mas as potências conservadoras do país cortaram a proposta pela raiz. Além disso, a mudança custaria bilhões de libras. Assim, o Reino Unido permanece junto aos outros três países europeus que ainda conduzem à esquerda: Irlanda, Chipre e Malta.
Ah, e na contramão do mundo, em 7 de setembro de 2009, o Estado Independente de Samoa tornou-se o terceiro país a mudar da mão direita para a esquerda. Samoa dirigia pela direita desde que se tornou uma colônia alemã no início do século XX. O primeiro-ministro Tuilaepa Sailele Malielegaoi quis trocar de lado para facilitar e baratear a importação de carros do Japão, Austrália e Nova Zelândia.
Legal saber por que alguns países dirigem à esquerda, não é? Se você quiser saber quais são eles, o site World Standards tem a lista completa!
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