O Rio de Janeiro, como Cidade Maravilhosa que é, tem lá seus exageros em forma de monumentos. O Cristo Redentor que, de braços abertos, abençoa o povo carioca. O Pão de Açúcar e seus bondinhos de altura estonteante. Mas, poucas guardam tanta história e curiosidades como a famosa Ponte Rio-Niterói. A obra faraônica é um dos símbolos do Rio de Janeiro, e personalidades de peso, como a Rainha Elizabeth II, já trafegaram por ela.
Oficialmente chamada de Ponte Presidente Costa e Silva, a Ponte Rio-Niterói integra a Rodovia BR-101, que sai do nordeste brasileiro em direção ao sul do país. Mais do que sua extensão descomunal, atravessa a Baía de Guanabara e tem importância inquestionável. A construção é responsável por ligar a capital a diversos outros pontos do estado, como a própria Niterói, Região dos Lagos e São Gonçalo.
Por isso, o tráfego de veículos segue intenso naquela que está entre as sete maiores pontes do mundo. Hoje, a ponte é, praticamente, um verdadeiro cartão-postal, com o característico vai e vem de carros, aviões passando por cima e navios por baixo de sua estrutura.
Conheça mais a história e curiosidades sobre a famosa Ponte Rio-Niterói, uma paisagem hoje totalmente integrada ao Rio de Janeiro.
História da Ponte Rio-Niterói
Até a construção da Ponte Rio-Niterói, o acesso à Niterói era feito por uma barca ou através uma viagem terrestre que passava por Magé, totalizando mais de 100 km. E, embora a inconveniência fosse maior nos anos 60, em virtude do aumento no fluxo de veículos, os projetos para unir as duas regiões de maneira mais rápida vêm desde muito antes. Digamos que, desde os tempos de imperador.
A primeira ideia de um projeto que ligasse Rio de Janeiro e Niterói data de 1875, quando Dom Pedro II contratou o engenheiro inglês Hamilton Lindsay-Bucknall. O objetivo inicial do imperador era construir um longo túnel sob a Baía de Guanabara, fruto de seu encanto pelas obras do metrô de Londres. O engenheiro contratado, então, deveria realizar estudos acerca da viabilidade de realizar uma obra de grande porte na região.
Anos depois, a alternativa apresentada foi erguer uma ponte ligando as duas cidades. Contudo, apesar das vantagens incontestáveis do empreendimento, a maior dificuldade seria a própria execução, além dos altos gastos envolvidos. Por isso, o projeto foi protelado, sem ser esquecido. Autoridades e empresários seguiram discutindo sobre a possibilidade de levantar a ponte, chegando a apresentar várias propostas até metade do século XX.
Nesse meio tempo, até uma licitação chegou a ser realizada mas, a construtora vencedora faliu e a obra nem foi iniciada. Cerca de 100 anos depois da ideia inicial de Dom Pedro II, já no governo militar da década de 60, o debate novamente veio à tona. Em 1963, foi criado um grupo de trabalho para estudar o projeto de uma ponte entre as duas cidades. Dois anos depois, uma comissão executiva foi formada para cuidar do projeto definitivo da construção.
O projeto de construção foi, então, idealizado por Mário Andreazza, na época Ministro dos Transportes, e assinado pelo presidente Costa e Silva, em 1968. A apresentação oficial do projeto aconteceu em novembro do mesmo ano, na Escola de Engenharia da Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Mas, a ocasião era festiva e merecia uma grande celebração, além da simples apresentação.
A construção da Ponte Rio-Niterói
Por isso, uma inauguração simbólica foi feita também em 1968, com a ilustre presença de Elizabeth II e sua alteza real, Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo. Mas, as obras só começaram mesmo em janeiro de 1969. A grande vantagem é que, em um século, as tecnologias avançaram, trazendo a possibilidade real de empreender uma obra deste porte, sob a responsabilidade de Antônio Alves de Noronha Filho e Benjamin Ernani Diaz.
O que não significa, entretanto, inexistir dificuldades em transpor os 9 km que separam, sobre o mar, Rio de Janeiro e Niterói. Uma delas era garantir que as rochas oceânicas suportassem o peso da estrutura de aço, concreto e asfalto. Foi aí que os engenheiros projetaram levar as perfuratrizes até ilhas flutuantes na Baía de Guanabara para, depois, colocá-las dentro de tubos e, assim, perfurar a rocha. Isso evitava o contato com a água.
Ainda, estruturas metálicas eram instaladas até a superfície e, sobre elas, construídas as fundações da ponte onde, depois, seriam erguidos os pilares de sustentação às pistas. É importante observar que, dos 13 km de extensão, aqueles 9 km eram sobre a água. Por isso, foi necessário construí-los em blocos erguidos por guindastes que, posteriormente, eram instalados nos pilares e soldados uns aos outros.
A operação exigia cuidado e vigilância, uma vez que as estruturas de sustentação levavam quatro dias até serem erguidas pelos guindastes. Enquanto isso, a obra precisava ser monitorada de perto, pois havia a contração e expansão das peças devido à variação de temperatura. Os cálculos eram acompanhados através de um painel até que as estruturas fossem finalmente encaixadas e soldadas umas às outras.
Ah, vale lembrar que toda a estrutura utilizada nas obras foi fabricada na Inglaterra. Os módulos chegavam por transporte marítimo e a própria importação era difícil, considerando o movimento que havia na Baía de Guanabara. Os desafios não pararam por aí! A altura do vão central deveria ser maior que no restante da estrutura, permitindo que barcos e navios se deslocassem sob a ponte.
O problema foi solucionado pela engenharia associada à tecnologia e, no projeto, o ponto mais alto da ponte acabou a 72 metros do nível do mar. Após tantos desafios, a Ponte Rio-Niterói ficou, finalmente, pronta em março de 1974, mesmo período em que foi inaugurada. A obra, com toda a sua imponência, atravessa a Baía de Guanabara com 72m de altura no ponto mais alto e 13,29 km de comprimento.
Curiosidades sobre a Ponte Rio-Niterói
Obviamente, tanta grandiosidade e obstáculos teve seu custo. Estima-se que mais de trinta pessoas tenham perdido a vida durante as obras da Ponte Rio-Niterói. O número, entretanto, foi levantado conforme reportagens da época e pesquisadores apontam que pode ser bem maior. Em um dos acidentes, datado de 25 de março de 1970, morreram 12 pessoas, mas não pôde ser publicado devido à censura.
Ademais, especula-se que muitos operários foram concretados junto aos pilares que sustentam a Ponte. No acidente de 1970, inclusive, houve o rompimento de um “tubulão”, um tipo de fundação profunda de concreto. Não houve tempo suficiente para que os trabalhadores saíssem e foram totalmente encobertos pelo concreto. Há, também, algumas lendas urbanas rondando a Ponte Rio-Niterói.
A mais conhecida delas é a de uma senhora que passeia pela ponta, sempre vestida de branco, trazendo uma rosa vermelha na mão. Lendas e tragédias à parte, vejamos algumas curiosidades acerca da Ponte Rio-Niterói:
- o primeiro veículo que fez a travessia da Ponte foi o Rolls-Royce do presidente Médici, enquanto o carro do coronel Rodrigo Ajace inaugurou o pedágio
- a ponte tem oscilações propositais mediante ventos superiores a 55 km/h, de forma a não danificar a estrutura da ponte. Quando isso acontecia, a ponte era interditada. Em 2004, atenuantes criados pela UFRJ foram implantados, diminuindo as oscilações em 80%
- a ponte foi projetada para receber 50 mil veículos por dia, mas hoje, esse número representa só um terço do movimento normal
- depois de ultrapassar a ponte, é possível percorrer 4.577 km de BR-101, desde Touros, no Rio Grande do Norte, até Rio Grande, no Rio Grande do Sul, sem interrupções.