Ah, a humanidade e seus mistérios! As interações sociais ao longo da história, edificações e suas utilidades, tudo isso move o imaginário de curiosos e pesquisadores. Pirâmides, ruínas, lendárias civilizações perdidas estão entre as passagens que despertam o interesse humano há séculos. No meio disso tudo, 15 cidades submersas pelo mundo surgem como peças de um quebra-cabeças que parece não ter fim!
Graças à incansável curiosidade e tentativa de entender o mundo, o homem tem descoberto todo um conjunto de construções submersas. Daí, surgem perguntas infinitas – como era o contexto social quando foram edificadas? Quando e por que estas cidades inteiras foram engolidas pela água? E o que dizer de uma cidade futurística completamente construída no fundo do mar?
Os segredos sob os sete mares são muitos. Vamos tentar, pelo menos, começar a compreender a história do mundo com as 15 cidades submersas pelo mundo – do passado e para o futuro.
Cidades submersas pelo mundo
Heracleion
No ano 2000, o arqueólogo francês Franck Goddio buscava navios afundados na costa de Abu-Qiro, a noroeste de Alexandria, no Egito. Foi aí que algo muito mais surpreendente apareceu: uma cidade perdida! Tratava-se de Heracleion, um dos principais portos do mundo que acabou engolida pelo Mar Mediterrâneo no século VIII, após inúmeras catástrofes naturais.
A primeira descoberta foi um enorme rosto e, desde então, já foram encontradas inúmeras estátuas, mais de 60 navios, rostos enormes e restos de templos, inclusive um erguido ao deus Amon. E, até hoje, nem todos os mistérios foram desvendados da cidade submersa egípcia de Heracleion. De acordo com especialistas, serão necessários, pelo menos, dois séculos até que todos os objetos sejam encontrados.
As escavações descobertas a três metros de profundidade ainda guardam artefatos, estátuas gigantes, jóias, cerâmica e moedas da dinastia ptolomaica. Atualmente, planeja-se a construção de um museu subaquático que permita ver de perto os tesouros afundados. Mas, muito além disso, a ideia é proteger Heracleion da caça furtiva e poluição.
Canopus
Franck Goddio foi o responsável por outra grande descoberta, também no Egito: a cidade submersa de Canopus. Próxima a Heracleion, a antiga cidade egípcia pode ter afundado em razão de uma mega enchente do Rio Nilo. A hipótese, inclusive, também pode explicar o desaparecimento do porto vizinho, pois as sustentações de ambas as cidades foram transformadas em lama liquefeita.
A tese também encontra suporte no fato de que inúmeras moedas de ouro foram encontradas no local. Ao que tudo indica, um colapso súbito afundou Canopus e Heracleion, caso contrário, os pessoas fugiriam levando sua fortuna. Também situada nos arredores de Alexandria, Canopus abriga as relíquias e santuários de Serápis e Osíris.
Fanagoria
A Rússia também tem sua representante na lista de cidades submersas. Fanagoria foi descoberta no século XVIII, mas os trabalhos de escavação se intensificaram somente a partir de 1930. A cidade, que tem uma história superior a 15 séculos fazia parte da Grécia Antiga e, por muito tempo, resistiu a guerras e invasões. Mesmo que outras cidades tenham sido construídas sobre suas ruínas, um terço de Fanagoria segue submerso, rendendo a ela o título de “Atlântida russa”.
Pavlopetri
Claro que a Grécia não ficaria de fora dos países que abrigam uma cidade submersa, principalmente por seus séculos e séculos de história! Pavlopetri, no estreito que separa a costa sul de Lacônia e a ilha de Elafonisos, foi descoberta há pouco mais de 50 anos, embora tenha mais de 5 mil anos de história. Inicialmente, pensava-se pertencer à Era Micênica, compreendida entre os séculos 1600-1100 aC.
No entanto, os arqueólogos a consideram a mais antiga cidade submersa do planeta, pontuando que suas construções remetem aos tempos de Homero. O sítio arqueológico fica a 4 metros de profundidade e já foram encontrados ao menos 15 prédios, além de tumbas e ruas. As escavações tornaram-se mais intensas a partir de 2009, quando especialistas em robótica subaquática e mapeamento de sonar empreenderam pesquisas na área.
Isso permitiu que eles construíssem uma imagem tridimensional de como era a aparência de Pavlopetri em seu apogeu.
Port Royal
Port Royal, na Jamaica, era um dos maiores pólos do comércio de escravos e escoamento de açúcar para a Europa das Américas. Em 1692, porém, um terremoto de proporções gigantescas causou a destruição de dois terços da cidade, a morte imediata de 2 mil pessoas e mais 3 mil falecimentos posteriores devido aos ferimentos. Port Royal era tida como o paraíso dos piratas e apelidada da “cidade mais perversa do oeste”.
Por isso, muitos acreditaram que o terremoto foi um castigo divino pelas práticas pecaminosas. Lendas e crenças à parte, a parte submersa de Port Royal é, hoje, um tesouro arqueológico. Até então, oito edifícios já foram descobertos, considerando diferentes estágios de preservação. A Conservação do Patrimônio Mundial da UNESCO descreve os achados como “’uma coleção incomparável de artefatos in situ”.
O sítio de Port Royal encontra-se fora dos limites para mergulho recreativo, mas vários dos artefatos recuperados podem ser vistos no Museu Nacional da Jamaica, em Kingston.
Alexandria
Alexandre, “o Grande”, decidiu materializar suas conquistas construindo uma cidade em sua própria homenagem: Alexandria, fundada em 331 a.C. Na época, a cidade era um dos maiores centros culturais do mundo antigo, por isso, repleta de construções imponentes e tesouros de valor inestimável. Entretanto, maremotos e terremotos seguidos acabaram afundando uma boa parte das edificações.
Somente a partir de 1992, as ruínas começaram a ressurgir e passaram a ser exploradas em 1994. Desde então, parte de uma estátua gigante de Ptolomeu II, fundações de pontes e o farol de Alexandria já foram encontrados, entre outros tesouros históricos.
Shicheng
A cidade de Shicheng fica no lago Qiandao e foi erguida há cerca de 1.300 anos. Conhecida como “Cidade Leão”, foi submersa em 1959 para a construção de uma hidrelétrica que fornece energia à Hangzhou. No entanto, suas ruínas só foram descobertas em 2011. Os quase 1,4 mil anos de história são abertos a mergulhadores, já que Shicheng é uma das principais atrações do lago.
A cidade está a cerca de 15 a 30 metros abaixo da superfície e abriga exemplares bem preservados da arquitetura das dinastias Ming e Qing. Entre os itens encontrados, estão templos, além de arcos com leões, dragões e fotografias esculpidos neles.
Dwakara
Dwaraka é uma das cidades sagradas da Índia e foi a capital do reino de Krishna, divindade que viveu cerca de 3100 anos antes de Cristo. Tida como uma lenda, foi descoberta no ano 2000 pelo Instituto Nacional de Tecnologia Oceânica da Índia, a 131 pés do Golfo de Khambhat.
A partir daí, foram encontradas peças de cerâmica, moedas e ruínas medievais. Mais uma série de artefatos antigos também foi revelada, incluindo esculturas, evidências de estruturas e ossos humanos. A datação do sítio arqueológico foi possível graças ao uso do Carbono 14.
Prisão subaquática de Rummu
A prisão subaquática de Rummu, a 50 quilômetros de Tallinn, capital da Estônia, abrigou presos nos anos 20. Hoje, está completamente submersa, mas desperta a curiosidade humana. Mergulhadores seguem rumo à Rummu para conhecer grades, celas e paredes estreitas, tendo a sensação de como é viver em um complexo prisional. Mas, o ambiente outrora ultrajante deu, também, lugar a uma diversificada vida marinha, rochas e corais.
Yonaguni
O Monumento Yonaguni foi descoberto em 1986 pelo mergulhador japonês Kihachiro Aratake. O conjunto de ruínas submersas está próxima à ilha de mesmo nome, compreendendo pirâmides com mais de 30 metros de altura, escadas, esculturas, hieróglifos ainda não identificados e estradas de pedra. A estrutura se ergue a 90 pés do fundo do mar e, de fato, pode ser a cidade submersa mais controversa que existe.
Isso porque existem diversas teorias quanto à sua origem e o período em que foi submersa. Além disso, há questionamentos se a pirâmide com terraços em forma de escada seja, de fato, uma construção humana ou resultados de atividade tectônica. Alguns pesquisadores afirmam que o Monumento Yonaguni foi submerso ainda na última Era Glacial, ou seja, há mais de 10 mil anos.
Em seu livro “Heaven’s Mirror: Quest for the Lost Civilization”, o escritor britânico Graham Hancock cita o Monumento Yonaguni. Ele e seu colega, o sismólogo marinho Masaaki Kimura, acreditam que a estrutura tenha sido construída em torno de 2.000 a 3.000 anos atrás. Independente de qualquer teoria, o sítio pode ser explorado por mergulhadores ou em passeios de barco.
Petrolândia
Está pensando que o Brasil ficaria de fora da lista? Nós também temos nossa representante das cidades submersas. Trata-se de Petrolândia, no sertão de Pernambuco que, em 1988, foi inundada para a construção de uma hidroelétrica. Houve certa redução no volume de água do Lago de Itaparica, por isso, dá para ver parte da estrutura do que foi uma igreja da velha cidade. É tão interessante que já foi pano de fundo para uma foto de casamento!
Villa Epecuén
Nas margens da Laguna Epecuén, na Argentina, uma vila era bastante popular devido às suas potencialidades turísticas. Estamos falando da Villa Epecuén que, infelizmente, desapareceu em meados da década de 1980 quando o lago transbordou com as fortes chuvas na região. Mas, desde 2009, as águas da violenta enchente vêm recuando, dando lugar à visibilidade de estradas, árvores e casas semi-submersas.
A Villa Epecuén é, hoje, uma das poucas cidades da lista – e do mundo – que não exigem dos visitantes habilidades de mergulho para exploração. Em 2013, Pablo Novak, um ex-morador da vila, retornou ao local com o recuo das águas. O homem é tema do documentário do cineasta australiano Matthew Salleh, Pablo’s Villa.
Baiae
De estância termal para os romanos ricos e famosos para cidade engolida por uma enchente. Baiae, na Itália, era conhecida pelas características hedonistas, até ser saqueada pelos sarracenos no século VIII. Em 1500, a vila foi totalmente abandonada, antes de ser inundada. O sítio, hoje, pode ser explorado por mergulhadores, sob a supervisão do Parco Archeologico Sommerso di Baia.
Entre os locais históricos, está o Pisonian Villa, pertencente à aristocrática família Piso, cujo plano era derrubar o imperador Nero. Também dá para conhecer o Sunken Nymphaeum, lar do imperador Cláudio ‘nymphaeum e de várias estátuas de mármore antigas.
Atlit-Yam
O complexo subaquático de Atlit-Yam, em Israel, tem cerca de 8.000 anos de idade e é uma das mais autênticas provas de sociedade baseada no cultivo, pecuária, pesca e caça. Com espaço de 40.000 metros quadrados, é considerado como o mais antigo sistema de subsistência agro-pastoral-marinho conhecida na costa do Levante. O complexo está a alguns quilômetros da costa da vila israelense de Atlit, ao sul de Haifa.
Pesquisas feitas no local revelaram descobertas arquitetônicas que incluem paredes, poços de água de pedra e um monumento megalítico ao lado de 65 esqueletos humanos. Entre os restos mortais, estão uma criança e uma mulher desenterradas em 2008 sob evidências de terem sofrido de tuberculose. Sendo assim, Atlit-Yam pode ter registrado o primeiro caso conhecido da doença na história.
Ocean Spiral
Até agora, falamos de cidades submersas da história antiga, certo? E, que tal conhecermos uma cidade subaquática totalmente construída para o futuro? A Shimizu Corporation, empresa japonesa no ramo da construção, projetou um conceito de “cidade do futuro em alto mar”, como uma Atlântida moderna. A Ocean Spiral é um ambicioso desenho que promete revolucionar a vida moderna.
A esfera flutuante tem 500 metros de diâmetro conectada ao fundo do mar por meio de uma espiral, abrigando espaços residenciais e comerciais. A Ocean Spiral pode parecer cenário de um filme de ficção científica, mas a Shimizu Corporation afirma que o projeto deve ser finalizado até 2030.